Solidariedade com palestinos leva banda paulistana a coletânea gringa ao lado de clássicos do punk rock mundial
Texto: Raphael Crexi*
A banda Rota 54 lançou o single “Quando as Estrelas Caem” em agosto; Coletânea inglesa terá lançamento em LP, lucros revertidos para Gaza e presenças de UK Subs,Vice Squad, Oi Polloi e Angelic Upstarts
São muito loucos os caminhos que a música e especialmente o punk rock percorrem. De repente, você sai do seu bairro e começa a falar e fazer o seu som para o planeta inteiro.Isso acontece com certa frequência, mas dessa vez o protagonista da história é a banda Rota 54, de São Paulo.
No último dia 8 de agosto eles lançaram o single “Quando as Estrelas Caem”, em solidariedade ao massacrado povo palestino em Gaza. E não é novidade nenhuma que o apoio à causa palestina se tornou um dos temas do punk rock mundial nas últimas décadas.
A música traz elementos musicais da cultura árabe que ambientam a descarga de energia típica do punk rock. E no caso do Rota54, um punk rock com mais melodia e muito bem tocado desde 2008, quando a banda surgiu. Produzida por Guto Passos no Estudio Lhama Records, “Quando as Estrelas Caem” foi lançada como single nas plataformas digitais, clipe em formato lyric video no youtube e fará parte da coletânea inglesa “Never Again”, como veremos abaixo.
Revolta e solidariedade
Guitarrista, vocalista e autor da letra, Daniel Moura explica por que a revolta com a barbárie transmitida ao vivo nas redes e TVs se tornou inspiração para uma canção de solidariedade. Para ele, existe um paralelo entre o que ocorre em Gaza e o que acontece no Brasil.
“O paralelo com a situação dos povos indígenas, do povo preto e pobre brasileiro, é inevitável, já que essa parcela da população vem sendo exterminada há mais de 500 anos por políticas excludentes, assassinatos por agentes do Estado e tentativas sistemáticas de apagamento da história negra, coordenada por uma elite racista e fascista”, disse.
E não está errado. Pelo contrário. As relações militares entre Brasil e Israel datam de 2003, quando as nossas Forças Armadas abriram um escritório em Tel-Aviv. Em novembro de 2010 os países assinaram um “acordo de cooperação e segurança” que abriu caminho para que agentes de segurança e militares daqui fizessem treinamentos ao lado dos de lá. Foi também a deixa para que o Estado brasileiro começasse a comprar armas e equipamentos militares israelenses – entre eles o Caveirão do Bope, que tocam o terror nas favelas cariocas.
E apesar do discurso do presidente Lula, que qualifica como genocídio a matança desenfreada
em Gaza, o Brasil segue sendo um dos principais fornecedores de petróleo para Israel. Além disso, ao longo dos últimos anos polícias civis e militares de diversos estados (SP, ES, RJ e outros) vêm gastando milhões para adquirir fuzis e metralhadoras de assalto da IWI – Israeli Weapon Industry. Um desses modelos, o Negev NG-7 7,62 pode disparar de 600 a 750 tiros por minuto. E bem, não é difícil prever os danos que isso pode causar numa área residencial.
Never Again
Como falávamos no início, o grito de solidariedade da banda paulistana chegou aos ouvidos de Bob Campbell, da banda Gutter Folk e idealizador da coletânea Never Again,que convidou o Rota 54 para participar ao lado de ícones do punk rock mundial como UK Subs, Vice Squad, Oi Polloi, Angelic Upstarts e Steve Ignorant, ex-vocalista do Crass.
Ao todo, são 32 faixas em solidariedade à Palestina. A coletânea já foi lançada em CD e no formato digital, e agora aguarda um lançamento em LP. O disco foi produzido de maneira colaborativa e todo o dinheiro arrecadado será destinado ao MAP: Medical Aid for Palestinians, uma instituição de caridade que atua na linha de frente em Gaza,
oferecendo apoio médico e alimentar.
“(…) Isso não é uma guerra ou um conflito – é um genocídio”, afirma Campbell. “E isso não tem nada a ver com religião: os judeus são e sempre foram a maior oposição ao Estado de Israel, principalmente porque são uma religião pacífica cujas escrituras sagradas afirmam enfaticamente que eles devem ser leais aos países que lhes dão abrigo (como a Palestina) e não estabelecer um estado na Terra para os judeus. Israel, o estado, é uma
contradição aos ensinamentos religiosos do judaísmo. Vale a pena notar que os palestinos também são literalmente semitas por definição e, portanto, pode haver algo mais antissemita do que seu genocídio?”, finaliza.
Veja mais
Formada em 2008, a Rota 54 atualmente é composta por Caio Uehbe (Voz e guitarra), Camarada Renan (Baixo), Daniel Moura (Guitarra e Voz) e Vinícius Coelho (Bateria).
Ouça no seu tocador favorito: https://onerpm.link/794947432679
Link Youtube: www.youtube.com/watch?v=m4Tv03NJBss
Instagram: @bandarota54
MAP: https://www.map.org.uk/
Pré-venda do LP: https://advanceukshop.bigcartel.com/product/various-artists-ceasefire-now-double-album
*Raphael Crexi é apresentador do podcast Desculpe Aturá-los e vocalista da banda Fiscais de Cu