Fabiano Negri: 30 Anos de Resiliência, Virtuosismo e o Renascimento do Legado do Rei Lagarto

Três décadas de carreira, centenas de músicas editadas e um catálogo que é parte da história do Hard Rock e Heavy Metal nacional. Fabiano Negri não é apenas um músico; ele é uma força constante do underground, um multi-instrumentista cuja voz potente se tornou uma marca registrada. Nesta entrevista exclusiva ao NoiseRed, o ex-frontman do icônico Rei Lagarto abre o jogo sobre a raridade de sua longevidade artística, a disciplina de “atleta de alta performance” que mantém sua voz evoluindo, e a necessidade criativa que o move entre projetos como o Rei Lagarto, sua carreira solo e o Bebê Diabo. Negri reflete sobre o segredo da conexão visceral do Rei Lagarto com o público na era pré-streaming e o trabalho de preservação de um legado que agora ganha o merecido relançamento digital, convidando uma nova geração a descobrir a verdade e a eletricidade de suas canções.

NoiseRed : 30 anos de carreira é um marco impressionante. Qual é o sentimento ao olhar para trás e ver a sua jornada como músico, multi-instrumentista e produtor, desde os primeiros passos até a consolidação como uma das vozes mais marcantes do Hard Rock e Heavy Metal nacional?

Fabiano Negri: É, realmente, muito bacana. Ver que a maioria dos músicos que iniciaram junto comigo não estão mais na ativa me mostra a raridade da minha jornada. Essa longevidade me enche de orgulho, especialmente quando olho para trás e vejo a marca de mais de 30 trabalhos lançados e mais de 300 músicas editadas. É uma satisfação imensa e um reconhecimento do trabalho consistente que venho fazendo.

NoiseRed : Sua voz é reconhecida pela potência, emoção e versatilidade. O que mais o inspira a manter essa chama acesa e a continuar evoluindo como cantor após três décadas?

Fabiano Negri:A voz é meu instrumento de trabalho e, portanto, merece o máximo de cuidado. Eu a trato com a disciplina de um atleta de alta performance, sempre focado na manutenção da forma e na busca por melhorias. Minha identidade como cantor e professor se consolidou em torno de um virtuosismo vocal específico. É fundamental que eu proteja essa minha marca, mas meu objetivo vai além: preciso aprender continuamente para garantir que minha arte permaneça relevante e continue sendo uma fonte de inspiração

NoiseRed: Você não se limitou a um único projeto. Além do Rei Lagarto, você tem uma carreira solo de sucesso e o trabalho recente com a banda Bebê Diabo. O que o motiva a transitar entre diferentes formações e estilos dentro do rock?

Fabiano Negri:Manter-me em produção não é uma escolha, é uma necessidade que me move e me traz bem-estar. Meu processo criativo é totalmente espontâneo: evito o planejamento excessivo. As obras surgem como um reflexo direto e sincero dos meus estados de espírito, das minhas escutas e do meu momento existencial. Essa conexão imediata com o que sinto garante a verdade em cada trabalho que lanço.

II. O Legado do Rei Lagarto

NoiseRed : O Rei Lagarto foi uma banda fundamental no underground de São Paulo, conquistando um público fiel com a força dos palcos e a venda de milhares de cópias físicas. Qual era o “segredo” dessa conexão tão forte com os fãs em uma época anterior ao streaming?

Fabiano Negri: A gente sempre foi banda de palco. Os shows do Rei Lagarto eram uma experiência imersiva e intensamente divertida. Nosso segredo? Nunca foi a perfeição. Entrávamos no palco com um único propósito: estabelecer uma conexão humana e provocar uma reação física — fazer as pessoas dançarem, pularem e cantarem junto. Essa energia, somada às nossas canções que nasceram para o ao vivo, garantia que cada apresentação fosse eletrizante e inesquecível.

NoiseRed: O som do Rei Lagarto misturava o Classic Rock setentista com influências modernas. Como essa fusão de Classic Rock com uma atitude mais moderna — ou até underground — se manifestava no processo de composição da banda?

Fabiano Negri: Tudo acontecia de forma muito fluida. A excelente química entre nós permitia que as canções se materializassem com rapidez e naturalidade. Nunca tivemos a pretensão de criar algo ‘para fazer sucesso’; nosso foco era puramente em fazer a música que gostávamos. Essa abordagem garantiu a integridade do nosso trabalho: músicas e atitudes que eram inegavelmente reais

NoiseRed:O catálogo completo do Rei Lagarto, que inclui álbuns icônicos como Overdrive, Free Fall e The Clockmaker’s Dream, foi remasterizado para o relançamento digital. Houve alguma descoberta ou emoção especial ao revisitar e retrabalhar este material fundamental da sua história?

Fabiano Negri:A experiência foi deliciosa! Há muito material de altíssimo nível em nossa discografia, peças que realmente resistem ao tempo. A inspiração era abundante, e as músicas possuem refrãos memoráveis e uma qualidade que reflete a sintonia de um time afiadíssimo. Sinto-me feliz por ter concretizado esse trabalho. Seria maravilhoso ver a nova geração descobrindo a profundidade e a energia dessas canções hoje.

NoiseRed : Você mencionou que o relançamento é uma forma de “manter viva essa chama e permitir que novas gerações descubram o som do Rei Lagarto”. Qual mensagem ou sensação você espera que o público mais jovem, acostumado ao streaming, encontre nesse material histórico?

Fabiano Negri:É uma satisfação imensa ver as pessoas se conectando com a música do Rei Lagarto. É uma banda que exige ser ouvida! Nossa trajetória foi construída longe de grandes investimentos em produção ou publicidade. O fato de termos sido ‘quase famosos’ e com uma agenda intensa de shows se deveu puramente à força das canções, à nossa integridade artística e à eletrizante performance ao vivo. A prova está na arte: convido a todos a conferirem a nossa discografia!

III. Projetos Atuais e Futuro

NoiseRed : Além do Rei Lagarto, você está preparando o relançamento digital de outros projetos da sua carreira. Quais são esses projetos e por que é importante para você disponibilizar esse material agora, ampliando o acesso ao seu legado?

Fabiano Negri: É com grande satisfação que anuncio o fechamento deste ciclo de relançamentos. O álbum ‘Shattering Blow’ do Mindfreak e toda a discografia do Rei Lagarto já estão nas plataformas, e em breve teremos o EP do Sun Machine – finalizando a missão de ter meu catálogo completo online. Próximo aos 50 anos, e com uma trajetória tão produtiva, era minha obrigação adaptar minha obra ao formato do streaming. Trata-se de preservar um legado construído ao longo de décadas: pouquíssimos artistas do underground brasileiro têm um volume de lançamentos como o meu. É uma forma de garantir que minha música perdure

NoiseRed: Seu projeto solo mais recente, o álbum ao vivo No Matter How Much You Feel Alive (2025), celebra os 30 anos de carreira e contou com a participação de convidados de várias fases. Como foi a experiência de montar esse registro e revisitar a sua trajetória com amigos e parceiros musicais?

Fabiano Negri: A experiência foi fantástica. O público compareceu massivamente, demonstrando um apoio impressionante. As participações fluíram de maneira excelente, elevando ainda mais a performance. O show foi um sucesso de ponta a ponta, superando as expectativas. Foi, sem dúvida, uma noite muito especial e gratificante para mim.

NoiseRed: O Bebê Diabo lançou em 2025 o álbum conceitual The Outlaw’s Journey. O que você pode nos contar sobre esse projeto e como é o seu papel criativo e instrumental na banda, em comparação com a sua fase frontman do Rei Lagarto?

Fabiano Negri: No período do Rei Lagarto, as canções nasciam em sua forma mais crua, sem pré-produção, já que eu não dispunha de um home studio como o de hoje. Os arranjos eram construídos, de forma mais orgânica, no calor dos ensaios. Atualmente, a tecnologia me permite criar demos muito mais elaboradas, com uma noção precisa da sonoridade final que desejo. No entanto, mesmo com essa clareza prévia, a filosofia se manteve na Bebê Diabo: eu dava espaço para que os outros membros trouxessem suas ideias, o que sempre foi muito enriquecedor. Em essência, o processo criativo é o mesmo, apenas potencializado por mais tecnologia.

NoiseRed: Qual é a sua visão sobre o atual momento do Rock/Metal brasileiro e o que é necessário para que o gênero continue ganhando destaque?

Fabiano Negri:Há, de fato, uma riqueza de talentos e ótimos trabalhos por aí. No entanto, o cenário do consumo musical apresenta desafios. A grande massa, infelizmente, tende a vincular a qualidade ao sucesso comercial, limitando-se ao ‘lado A’ já estabelecido de seus artistas favoritos, e raramente explora o ‘lado B’ – que dirá abrir espaço para o ‘desconhecido’. Essa falta de curiosidade em ampliar o leque cultural é uma pena para a diversidade da música. Mas meu foco é claro: eu toco para quem genuinamente quer ouvir. Sou profundamente grato às pessoas que seguem e valorizam o meu trabalho. Para o nosso gênero ganhar um destaque massivo, seria preciso uma mudança radical no comportamento de consumo, pois o milagre está na abertura de mente do ouvinte.

NoiseRed: Muito Obrigado por esse pequena entrevista Fabiano Negri , o espaço final é seu , deixe um recado para nossos leitores aqui no NoiseRed e informações como o público pode adquirir material e contratar shows .

Fabiano Negri: Eu que agradeço imensamente o espaço e, sobretudo, a dedicação e o suporte à música independente. Para quem deseja mergulhar em minha obra, a forma mais prática de me encontrar é buscando por Fabiano Negri no Google. Lá, será fácil ter acesso à minha música, ao meu catálogo completo e entrar em contato. Um grande abraço!

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