
Texto Por Samyra Nunes
Ser mulher em uma banda de black metal é, por si só, um ato de resistência.
Desde que mergulhei nesse universo, encarei olhares desconfiados,comentários maldosos e a constante necessidade de provar que minha presença é legítima — não como exceção, mas como uma força criativa real.
O black metal sempre me atraiu justamente por ser um espaço de ruptura, de confronto com o convencional. E foi nesse caos sonoro e estético que encontrei liberdade para gritar aquilo que o mundo insiste em silenciar.
Caminhando Entre Ruínas
Durante muito tempo, essa rebelião foi expressa quase exclusivamente por vozes masculinas. Ser uma mulher nesse cenário é como caminhar entre ruínas: você reconhece o terreno, mas precisa abrir seus próprios caminhos entre os escombros.
Minha banda nasceu disso: do incômodo. Da raiva. Do luto. E das grandes ilusões.
Nas composições, trago influências que vão de Mayhem a Candlemass, mas também carrego a dor, o cansaço e o poder de simplesmente existir em um espaço que disseram não ser “pra mim”. Fazer o som vibrar no peito de quem ouve — isso é mais do que performance: é libertação.
Nasce a Poison Rain
O nome Poison Rain surgiu de um momento cotidiano: indo para o trabalho, em meio à chuva, comecei a pensar sobre críticas sociais, exclusões, silenciamentos. Daquela chuva ácida nasceu um projeto simples, direto e visceral — underground de verdade.
Não espero fama, grandes palcos ou cifras. O black metal nunca foi sobre isso. Quero que a Poison Rain chegue a quem realmente precisa ouvir. Que minhas ideias ecoem. Que minhas dores e fúrias encontrem abrigo.
O Que A Cena Ainda Não Quer Ouvir
Após muitas composições, pesquisas e reflexões, comecei a enxergar o black metal com outros olhos. A cena underground ainda carrega muitas amarras. Há quem diga que o black metal deve se manter “puro”, como se fosse possível isolar a arte da vida.
Mas eu acredito no oposto: o gênero só sobrevive se for contaminado — por novas vozes, novas vivências, novas dores e fúrias.
É por isso que sigo aqui: fazendo barulho e mostrando que o inferno também tem o grito de uma mulher.
Uma Breve História do Caos
Para entender o hoje, precisamos olhar para o ontem.
Em 1979, nasceu uma das maiores influências do black metal: a banda Venom. Mas foi só em 1982, com o lançamento do álbum “Black Metal”, que o subgênero realmente ganhou forma — com riffs rápidos, vocais rasgados e muita blasfêmia.
Nos anos 90, começava a chamada segunda onda do black metal, liderada pela Noruega. Mais de dez álbuns históricos foram lançados nessa era dourada, muitos considerados essenciais até hoje.

Mayhem, Burzum, Darkthrone, Emperor, Bathory — nomes que não só moldaram o som, como também ajudaram a construir toda a mística ao redor do gênero.
Mas nem tudo era som: o movimento também ficou conhecido por ideologias radicais, como o anticristianismo, o ódio à religião organizada e o nacionalismo pagão. Houve até queima de igrejas e assassinatos — o mais notório sendo o de Euronymous (Mayhem) por Varg Vikernes (Burzum), em 1993.
E o Futuro?
A pergunta que ecoa: o black metal está em declínio?
Talvez não em número de bandas. Mas em essência, sim — se continuar se fechando ao novo, ao diferente, ao necessário.
O verdadeiro espírito do black metal está na rebelião, na ousadia, na ruptura. E isso não tem gênero. Não tem fronteira. Não tem fórmula.
Enquanto houver alguém disposto a gritar verdades incômodas, a incomodar, a resistir — o black metal estará vivo. Mesmo que seja em forma de chuva ácida, caindo devagar, mas corroendo tudo ao seu redor.

Esse é o som da Poison Rain.
Se você chegou até aqui, obrigada. E se algo vibrou dentro de você, então já valeu a pena.
Fontes: Until the Light Takes Us.
Mais Informações:
https://www.instagram.com/poisonrainofc?igsh=MXJraDlkbnVmeHUzYw==
https://www.instagram.com/samyjnunes?igsh=NHJwazFwZXU0bndk
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