Gulyong (구룡): A Fúria do Black Metal Bate no Muro Imperialista, Direto da RPDC

A cena underground acaba de ganhar um novo e polêmico nome. Da isolada Rason, na República Popular Democrática da Coreia (RPDC), surge Gulyong (구룡), a primeira banda de Black Metal a, supostamente, emergir do país. Com um EP de três faixas e uma declaração de produção que desafia o senso comum ocidental, o duo crava a bandeira do som extremo com a estética e a mística da luta popular.
A notícia, ainda que cercada da desconfiança típica de tudo o que cruza a fronteira coreana, ganhou tração nas redes especializadas e, claro, no NoiseRed, que não poderia ficar de fora. A banda, formada por Ri Kyong-Su (Criação, Vocais, Cordas) e Pak Chol-Min (Bateria, Baixo), lançou um material que tem sido associado ao Black/Thrash e que reverbera a sonoridade crua e ideológica do estilo.
O que realmente chama a atenção, e que merece uma leitura atenta, é a nota de produção que acompanha o lançamento. Datada de 10 de Outubro, Juche 114 (2025) – uma referência ao calendário norte-coreano que celebra a era da Autossuficiência –, a mensagem é um tapa na face da narrativa imperialista que pinta a RPDC como um lugar onde a arte é inviável:
“Esta gravação ocorreu ao longo de seis semanas no distrito de Sonbong, na cidade de Rason, República Popular Democrática da Coreia. Utilizamos o estúdio de gravação durante o horário permitido e seguimos rigorosamente as normas durante todo o processo criativo. Todos os equipamentos são propriedade do Estado e os manuseamos de acordo com as normas. Três músicas foram concluídas e todas as gravações foram realizadas nas mesmas condições. Este álbum é o som da nossa terra. Quem ouvir, ouvirá. O disco existe. Basta.”
Essa declaração é, em si, um manifesto de esquerda. Em um mundo onde a produção musical é dominada pelo capital privado e pela lógica da mercadoria, Gulyong ostenta o caráter estatal dos seus meios de produção. Eles não precisam vender a alma para grandes gravadoras nem lançar crowdfunding a capitalistas. O Estado, no socialismo coreano, garante os equipamentos e o espaço para que a arte, mesmo que extrema, se manifeste. Isso subverte a própria lógica do Black Metal ocidental, frequentemente associado ao individualismo e, em muitos casos, a pautas reacionárias.
O Som da Terra e a Bravura da Dinastia
As três faixas do EP carregam títulos carregados de significado cultural e político:

Tracklist:
1.구중승천 (Ascensão dos Nove Céus)
2. 백두의 소환 (Invocação de Baekdu)
3. 왕조의 용맹 (Bravura da Dinastia)
A menção à “Bravura da Dinastia” e a “Invocação de Baekdu” – o Monte Baekdu sendo um local sagrado e simbólico na mitologia e na narrativa revolucionária coreana – demonstra que Gulyong não está interessado em temas vazios ou na misantropia niilista. O Black Metal aqui é canalizado como um veículo para a afirmação da identidade nacional e da história revolucionária, um som de resistência que se recusa a ser homogeneizado pela cultura pop globalizada. É o Black Metal Vermelho e Coreano, pronto para soar nos alto-falantes de quem se opõe ao domínio capitalista.
Se a banda é 100% autêntica, como a nota de produção sugere, ou se é um projeto que emerge do underground global inspirado pela mística da RPDC, é um debate que ficará para os “especialistas” e céticos ocidentais. Para o NoiseRed, o que importa é o som e a mensagem. E a mensagem é clara: o disco existe, é feito com equipamentos estatais e canta a glória da terra. Que o riff pesado de Gulyong sirva como um lembrete para a esquerda global de que a cultura e a resistência podem surgir de onde menos se espera, desafiando a lógica do Império.
Ouça o EP abaixo :
https://kuryongdprk.bandcamp.com/album/-
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